Um novo conceito de idade média nas escolas
Miriam Coser1
Ao longo do séc. XX, o estudo da Idade Média passou por profundas transformações, com novas abordagens, novos questionamentos e sobretudo a utilização de diferentes fontes antes desprezadas pelos historiadores tradicionais, como a iconografia, a literatura e a música. A corrente historiográfica francesa conhecida como
Escola dos Annales, foi a grande responsável por essa nova perspectiva acerca do período que, anteriormente, fora designado como a “Idade das Trevas”. O medievalista
Marc Bloch, representante da primeira geração desta corrente e morto na Segunda
Guerra Mundial, foi o seu principal expoente.
A compreensão da História como processos de curta, média e longa duração, tal como propôs Fernand Braudel, já na segunda geração do movimento, permitiu trabalhar com tempos históricos sobrepostos entre si, possibilitando, mais tarde, a abertura para o estudo das mentalidades, compreendidas como estruturas de longa duração, apontando continuidades, as quais, anteriormente, só eram percebidas como rupturas, principalmente nos planos político e econômico.
A chamada terceira geração dos Annales, com medievalistas de extrema importância como Jacques Le Goff e Georges Duby, será a grande responsável pela exploração do campo das mentalidades e a ampliação dos temas historiográficos, como as representações sociais, o amor, o casamento e a infância, entre tantos outros. Tais temas foram estudados à luz dos novos tipos de fontes, conferindo novo caráter à sociedade medieval e às heranças por ela deixadas à sociedade ocidental contemporânea2. Aspectos referentes à Idade Média, como a superação do escravismo, o desenvolvimento de novas formas de conhecimento intelectual (a escolástica), as tentativas de contensão da violência (Paz de Deus), etc, receberam especial atenção por parte dos historiadores que redimensionaram o período medieval, antes concebido como um longo período de letargia e de