transferencia de processos
Para romper o círculo vicioso do preconceito lingüístico no ponto em que temos mais poder para atacá-lo — a prática de ensino
—, precisamos rever toda uma série [pg. 118] de “velhas opiniões formadas” que ainda dominam nossa maneira de ver nosso próprio trabalho. Logo de início, convém fazer a pergunta: o que é ensinar português? Que objetivo pretendemos alcançar com nossa prática em sala de aula?
Os métodos tradicionais de ensino da língua no Brasil visam, por incrível que pareça, a formação de professores de português! O ensino da gramática normativa mais estrita, a obsessão terminológica, a paranóia classificatória, o apego à nomenclatura — nada disso serve para formar um bom usuário da língua em sua modalidade culta. Esforçar-se para que o aluno conheça de cor o nome de todas as classes de palavras, saiba identificar os termos da oração, classifique as orações segundo seus tipos, decore as definições tradicionais de sujeito, objeto, verbo, conjunção etc. — nada disso é garantia de que esse aluno se tornará um usuário competente da língua culta.
Quando alguém se matricula numa auto-escola, espera que o instrutor lhe ensine tudo o que for necessário para se tornar um bom motorista, não é? Imagine, porém, se o instrutor passar onze anos abrindo a tampa do motor e explicando o nome de cada peça, de cada parafuso, de cada correia, de cada fio; explicando de que modo uma parte se encaixa na outra, o lugar que cada uma deve ocupar dentro do compartimento do motor para permitir o funcionamento do carro e assim por diante... Esse aluno tem alguma chance de se tornar um bom motorista? Acho difícil.
Quando muito, estará se candidatando a um emprego de mecânico de automóveis... Mas quantas pessoas existem por aí, dirigindo tranqüilamente seus [pg. 119] carros, tirando o máximo proveito deles, sem ter a menor idéia do que acontece dentro do motor?
Hoje em dia, cada vez mais