Tradução e Interpretação: Uma Perspectiva Hermenêutica
Dada a relevância da interpretação no ato de traduzir, a Hermenêutica, como campo de conhecimento que investiga os meandros da interpretação, abre caminhos para refletir a fidelidade na tradução e a impossibilidade dessa tarefa. De acordo com
Hans-Georg Gadamer, a tradução, como qualquer atividade de compreensão humana, acontece por meio de uma interpretação. Esta é fundamentada no diálogo entre texto e tradutor que se deixa guiar pelas perguntas, ou temas, que a obra coloca. Tal abordagem relativiza a dicotomia entre forma e conteúdo, na qual a fidelidade baseia-se, por considerar a obra literária como um todo único, que surge na continuidade e na partilha de nosso conhecimento. Além disso, a hermenêutica, ao apontar para a íntima relação entre interpretação e compreensão, estabelece a atividade tradutória não só como possível, mas também criativa.
PALAVRAS-CHAVE: tradução literária, estudos da tradução, interpretação, hermenêutica, fidelidade, possibilidade da tradução.
Sabe-se que o ato de traduzir não é, de forma alguma, uma simples transposição de palavras de uma língua à outra. Não traduzimos apenas palavras, mas também significados e referências entre culturas diversas. A tradução, portanto, não é uma atividade puramente técnica e objetiva. Já desde as teorias que descontruíram a noção de sujeito cartesiano – com Nietzsche, que denunciou o caráter ideológico da linguagem, e com Freud, que revelou a importância do inconsciente no ser humano –, a objetividade ou neutralidade da interpretação foi posta em xeque. Por conseqüência, a interpretação na tarefa do tradutor passa a ser um elemento fundamental.
Dada a relevância da interpretação no ato de traduzir, a Hermenêutica, como campo de conhecimento que investiga os meandros da interpretação, abre caminhos para refletir, por exemplo, a fidelidade na tradução e a impossibilidade dessa tarefa – questões sempre discutidas desde mesmo antes dos estudos da tradução se firmarem