A narrativa desenvolve-se num tempo não linear, com algumas idas e vindas; numa organização cronológica, estende-se desde a chegada de Luísa ao apartamento em frente ao de Macário, passando pelo início e pelo desenvolvimento do relacionamento dos dois, pela sua separação, até o momento em que Macário conhece o narrador – do qual não se sabe o nome – e relembra sua história. Quanto ao espaço, mais precisamente à ambientação, o conto passa-se na Lisboa do século XIX, cidade em que Francisco, tio de Macário, administra uma loja de panos e mora, juntamente com seu sobrinho, no piso superior. O conto inicia com um recuo no passado, em que Macário relembra uma paixão. Ele apaixona-se por uma jovem loura e muito bonita da casa frente a sua, Luísa, e começa a ficar distraído e absorto no seu trabalho. Macário resolve casar-se com a moça, mas o seu tio, com quem trabalha, não aceita. Por insistir, Macário, então, é expulso de casa. Mais tarde, por vê-lo desesperado, sem emprego, o seu tio aceita-o de volta e deixa-o casar-se. Certo dia, Macário vai com Luísa a uma ourivesaria para reservar um anel. Ao saírem, o ourives dirige-se ao casal pedindo educadamente para pagarem o anel que Luísa tinha na mão. Macário pagou-o e levou Luísa para fora, onde lhe diz: "És uma ladra!" (QUEIRÓS, [1902], p. 19). E, então, volta-lhe as costas e vai embora. “Singularidades de uma rapariga loura” é uma clara crítica ao Romantismo, em que se pode observar a beleza posta em cheque ante o caráter; ao mesmo tempo, funciona como uma afirmação da estética Realista, como se pode notar no seguinte excerto: E, ou fosse um certo adormecimento cerebral produzido pelo rolar monótono da diligência, ou fosse a debilidade nervosa da fadiga, ou a influência da paisagem escarpada e chata, sobre côncavo silêncio noturno, ou a opressão da eletricidade que enchia as alturas, o fato é que eu — que sou naturalmente positivo e realista —