Tolerância ( Tratado das grandes virtudes )
A tolerância é uma virtude delicada, pois só pode ser considerada virtude se for na dose certa. Este é um grande desafio. Tolerar tudo não é mais tolerância e sim indiferença. Tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força. Assim, toleramos os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário. Mas isso só é virtuoso se assumirmos, como se diz, se superarmos para tanto nosso próprio interesse, nosso próprio sofrimento, nossa própria impaciência. A tolerância só vale contra si mesmo, e a favor de outrem. Não há tolerância quando nada se tem a perder, menos ainda quando se tem tudo a ganhar em suportar, isto é, em nada fazer.”
A tolerância tem a ver com a humildade, ou antes, dela decorre, como esta máxima da boa-fé: amar a verdade até o fim é também aceitar a dúvida em que ela resulta, para o homem. De acordo com Voltaire: “Devemos tolerar-nos mutuamente, porque somos todos fracos, inconsequentes, sujeitos à mutabilidade, ao erro.” Humildade e misericórdia andam juntas, e esse conjunto, no que se refere ao pensamento, conduz à tolerância.
A palavra tolerância se impôs, entretanto, é sem dúvida porquê de amor ou de respeito todos se sentem muito pouco capazes, em se tratando de seus adversários – ora, é em relação a eles, primeiramente, que a tolerância age: “Esperando o belo dia em que a tolerância se incline ao amor”, conclui Jankélévitch, “diremos que a tolerância, a prosaica tolerância é aquilo que melhor podemos fazer. A tolerância menos exaltante já é alguma coisa.
Pureza
Nada é puro ou impuro por si. A mesma saliva faz a cusparada ou o beijo; o mesmo desejo faz o estupro ou o amor.
A pureza não é absoluta, a pureza não é pura: a pureza é uma certa maneira de não ver o mal onde, de fato, ele não se encontra. O impuro vê o mal em toda