RESUMO DO TRATADO DAS PEQUENAS VIRTUDES
Se a virtude pode ser ensinada, como creio, é mais pelo exemplo do que pelos livros. Então,para que um tratado das virtudes? Para isto, talvez: tentar compreender o que deveríamos fazer, ou ser, ou viver, e medir com isso, pelo menos intelectualmente, o caminho que daí nos separa.
O que é uma virtude? É uma força que age, ou que pode agir. Assim a virtude de uma planta e de um remédio, que é tratar, de uma faca, que é cortar, ou de um homem, que é querer e agir humanamente.
A POLIDEZ
A polidez é a primeira virtude e, quem sabe, a origem de todas. É também a mais pobre, a mais superficial, a mais discutível. a polidez não tem pretensões morais. O homem só pode tornar-se homem pela educação”, reconhece por sinal Kant, “ele é apenas o que a educação faz dele”, e é a disciplina que primeiro “transforma a animalidade em humanidade”. Não poderíamos dizer melhor.
As boas maneiras precedem as boas ações e levam a estas.
Sei muito bem que a polidez não é tudo, nem o essencial. No entanto, o fato é que ser bem-educado, na linguagem corrente, é antes de tudo ser polido, o que já diz muito sobre a polidez.
Assim, ela muda com a idade, se não de natureza, pelo menos de alcance. Essencial durante a infância, não essencial na idade adulta.
A FIDELIDADE
A fidelidade não é um valor entre outros,uma virtude entre outras:
A fidelidade é “a virtude do Mesmo”, dizia ainda Jankélévitch; mas num mundo em que tudo muda.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, nem ama duas vezes a mesma mulher. Pascal: “Ele já não ama a pessoa que amava há dez anos.
Acredito: ela não é mais a mesma, ele também não. Ele era jovem, ela também; ela está completamente diferente. Ele talvez ainda a amasse, tal como ela era então.” A fidelidade é a virtude do mesmo, pela qual o mesmo existe ou resiste.
Ser fiel a suas idéias não é (felizmente!) ter uma só idéia; nem ser fiel em amizade supõe que tenhamos um só amigo.
Fidelidade, nesses domínios,