texto: pulsão de morte
Garcia-Rosa, Luis Alfredo
[Zahar, Rio, 1990]
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Pulsão de morte
O conceito de pulsão nos remete a uma região do campo psicanalítico que está além da ordem. Esse campo poderia ser pensado como sendo composto por duas grandes regiões: uma compreendendo aquilo que Freud designou de aparelho psíquico (ou "aparato anímico", como ele preferiu posteriormente) a que abarca o inconsciente e o pré-consciente/consciente; a uma outra região, para além do princípio do prazer, que seria o lugar próprio das pulsões. A primeira região define o que se chamou de espaço da representação, entendendo-se por representação
(Vorstellung), como já vimos, não o que poderia ser pensado como representação de algo externo, mas que seria melhor designado como representante da representação.1 Esse é o lugar da ordem ordem pré-consciente/consciente assim como ordem inconsciente - formada pela rede de significantes a regida pelo princípio de prazer a seu sucedâneo, o princípio de realidade. A pulsão ocupa um outro lugar, situado além da ordem a da lei, além do inconsciente a da rede de significantes, além do princípio de prazer a do princípio de realidade, além da linguagem: é o lugar do acaso.
Para além da ordem a da lei.
O campo psicanalítico não é, pois, todo ele abarcado pela ordem, há um fundo de acaso contra o qual essa ordem se apresenta e com a qual ela mantém uma relação estrutural. Volto a frisar que não se trata aqui da distinção entre o pré-consciente/consciente e o inconsciente, mas de uma outra, mais radical, entre o aparato anímico (que abarca o Ics e o Pcs/Cs) a as pulsões.
Tampouco se trata de uma divisão que coloca de um lado o pre-consciente/consciente e de outro lado o Isso (das Es) como lugar das pulsões. O Isso é também uma instância psíquica enquanto que a pulsão é extra-psíquica. Sem dúvida alguma, o Isso é inconsciente - embora não seja o inconsciente - mas nem se confunde com este último, nem com as pulsões