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Os Três ensaios sobre a sexualidade
Se A interpretação de sonhos pode ser considerada como o discurso do desejo, os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) devem ser considerados como o discurso da pulsão. Constituem eles os dois textos fundamentais sobre os quais se apoia a teoria psicanalítica (cf.
Mannoni, 1976, p. 77). Esses dois textos funcionam paralelamente, como se fossem duas inscrições ou dois registros distintos de uma mesma problemática. Apesar de o restante dos textos que compõem a teoria psicanalítica fazer referências necessárias a ambos, eles mesmos não fazem remissões um ao outro. Assim, como assinala O.
Mannoni (ibid.), os Três ensaios não estão voltados para o desejo ou o fantasma e não encontramos nele nenhuma referência ao Édipo.
Não é do desejo — que precisa realizar-se — que ele fala, mas da pulsão — que necessita satisfazer-se. Mas, como o próprio título indica, não é da pulsão em geral que Freud fala nos Três ensaios e sim da pulsão sexual em particular.
Não é, porém, nos Três ensaios que a sexualidade faz sua entrada nos escritos de Freud: na verdade, ela está presente desde os Estudos sobre a histeria (1893-1895) escritos juntamente com Breuer. O caso de Anna O. (Berta Pappenheim) pode ser considerado o lugar de entrada em cena da sexualidade, apesar da resistência oferecida por
Joseph Breuer — ou precisamente por causa dessa resistência (ver o capítulo 1).
Um dos pressupostos que sustentaram a teoria e a terapia da histeria no período que corresponde aos Estudos sobre a histeria é o do trauma psíquico e seu conteúdo sexual. O que a teoria do trauma sustentava é que o neurótico, em sua infância, teria sido vítima de uma sedução sexual real e que esse fato, pelo seu caráter traumático,
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teria sido recalcado e se transformado em núcleo patogênico cuja remoção só seria obtida com a ab-reação e a elaboração psíquica da experiência traumática. Essa teoria, tal como foi concebida inicialmente, trazia implícito