Teoria da Personalidade
Abra-se, contudo, um novo parágrafo. Interrogue-se um elemento qualquer da trilogia acima referida. Por exemplo, um filósofo. Que tem ele a dizer-nos sobre a natureza e o conteúdo da felicidade? Se tomarmos como referência um texto mais ou menos recente do filósofo espanhol Fernando Savater sobre, precisamente, O Conteúdo da Felicidade, a resposta é a que segue: "Felicidade é aquilo que brilha onde eu não estou, ou ainda não estou ou já não estou". É caso para exclamar: estranho brilho, esse, que nos deixa às escuras! Também não é mais esclarecedora a frase que abre a conclusão, em apêndice, do texto mencionado: "Da felicidade, esse tema improvável, talvez só deva falar-se na primeira pessoa e, como é evidente, para a considerar perdida". Ora, não é isso o que faz, sem parar, o discurso corrente? Apetece dizer: de Aristóteles a Savater, foram necessários aproximadamente dois mil e quatrocentos anos para chegar a isto: ao óbvio.
Seja. Talvez em outras bandas tenhamos mais sorte. Repita-se a pergunta, desta vez ao fundador da psicanálise: o velho Freud. Que nos diz ele? Diz-nos que "até agora – nada consolador! – a nossa investigação sobre a felicidade não nos ensinou quase nada que já não pertença ao conhecimento comum. E mesmo que passemos dela para o problema de saber porque é tão difícil para o homem ser feliz – continua Freud – parece que não há maior perspectiva de aprender algo novo." Confissão de honestidade ou impotência, uma coisa é certa: encontramo-nos ainda ao nível do que salta à vista de toda a gente, isto é, do óbvio. E no entanto, como recorda Lacan em 1959, na introdução do Seminário dedicado à Ética da