Tenho uma leve impressão que estou sendo vigiado
Bruno Pucci1
Quando era seminarista, nas tormentas de minha adolescência, uma imagem terrível me impressionava sobremaneira: um enorme olho arregalado, bem no centro de um triângulo eqüilátero, e debaixo do signo, uma inscrição intimidante: Deus te vê!
Deus via tudo. Deus estava em todos os lugares. Deus espiava tudo o que eu fazia.
Que sensação espantosa para um jovem adolescente que lutava o tempo todo contra seus vícios solitários!
Com o correr dos anos e com a mudança de orientador na formação do seminarista, a imagem do Deus pai suplantou paulatinamente a do Deus espião. Mas deixou seqüelas.
Hoje em dia, muito tempo depois, essa mesma sensação de temor volta a atormentar meus dias. Alguém me vê! Tenho a nítida percepção de que estou sendo vigiado o tempo todo. Saio à rua de carro ou trafego pelas rodovias de meu estado e lá estão os numerosos radares ultramodernos a fotografar festivamente minha passagem. Entro na loja de conveniência para tomar um café expresso ou para sacar uma grana no caixa eletrônico e uma câmara atenta acompanha furtivamente meus distraídos passos: “Sorria, você está sendo filmado!”. Dirijo-me à minha sala de trabalho, na UNIMEP, e outra câmara explícita acompanha meu decidido caminhar pelo longo corredor do Bloco 9. E aqueles professores ali, conversando sorridentes numa rodinha de conversa fiada, não estão sendo vistos e ouvidos por sutis aparelhos ocultos? Retorno à noite para meu apartamento e mais uma câmara indiscreta foca de frente meu discreto ingresso na garagem do prédio. Sinto que estou sendo seguido o tempo todo por alguém que me vê e que não se deixa facilmente ver.
E os responsáveis pela instalação das câmaras e radares, todos eles tentam me convencer que o motivo único da presença desses atentos “objetos vigilantes” é a minha segurança, somente isso. E cada vez mais me deparo com lugares “protegidos” por câmaras e “objetos vigilantes”: lojas,