suplicio
Claude
Lévi-Strauss
O suplício do Papai Noel
Tradução Denise Bottmann
As festas de Natal de 1951 ficarão marcadas na França por uma polêmica que encontrou grande repercussão junto à imprensa e à opinião pública e introduziu um tom de inusitado azedume no clima geralmente alegre dessa época do ano. Há vários meses as autoridades eclesiásticas, na voz de alguns prelados, já manifestavam sua desaprovação à importância cada vez maior que as famílias e os comerciantes vinham dando à figura do Papai Noel. Elas denunciavam uma preocupante “paganização” do dia de Natal, desviando o espírito público do sentido propriamente cristão dessa comemoração, em favor de um mito sem valor religioso. Tais ataques aumentaram nas vésperas
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do Natal; com maior discrição, mas igual firmeza, a Igreja Protestante uniu sua voz à da Igreja Católica.
acusado de paganizar a festa de Natal e de se instalar como
Cartas de leitores e artigos nos jornais já vinham de-
um intruso, ocupando um espaço cada vez maior. Censuram-
monstrando de maneiras variadas, geralmente con-
no, sobretudo, por ter-se introduzido em todas as escolas pú-
trárias à posição eclesiástica, o interesse despertado
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que condenara Papai Noel como usurpador e herege. Ele foi
blicas, de onde o presépio foi meticulosamente banido.
pelo assunto. Por fim, o ponto culminante ocorreu
Às três horas da tarde do domingo, o infeliz velhi nho de
em 24 de dezembro, durante uma manifestação que
barbas brancas pagou, como muitos inocentes, por um erro
foi descrita pelo repórter do jornal France-Soir nos se-
cujos culpados eram os que aplaudiram a execução. O fogo
guintes termos:
queimou suas barbas e ele se esvaiu na fumaça.
Ao final da execução, distribuiu-se um comunicado
papai noel é queimado no átrio da catedral de dijon diante de crianças de orfanatos
Dijon, 24 de dezembro (enviado do France-Soir)
cujos principais termos