Sobre Retrato de Dorian Gray
Tiago Amorim, para o Clube do Livro de maio de 2013
Todos nós adotamos, em algum momento de nossas vidas, uma postura diante do Ser. Eivada de hereditariedade cultural, possuída de sinceridade ou não, resultado de uma longa reflexão ou de um automatismo mimético, inevitavelmente tivemos que responder à ressoante Presença. Iludidos, ainda que por um breve segundo, de não estarmos Nele, concedemos a nós mesmos essa circunstância que nos coloca como inquiridores do aspecto mais comprometedor da existência. Cada um, então, segue vivendo suas trajetórias à luz do que fora assumido naquele instante dramático. Nossos destinos, formas do acontecer escolhidos, dependem do cenário pessoal erigido sob a reverência ou renúncia desta Presença.
Tanto quanto há modos de viver, há também maneiras de dar realidade à reverência ou à renúncia. O que se deve realçar é a impossibilidade cognitiva de apreender os distintivos biográficos que são, em última análise, efeito dos atos criadores e argumentativos de cada um de nós. A alternativa restante – se quisermos compreender como uma pessoa especificamente decidiu em relação ao Ser – é contar a sua história. Penetrando os meandros de sua narrativa esperamos, por meio da linguagem modulada em um mito acontecido no tempo, tocar aquela precisa experiência fundante que é, por definição mesma, indizível.
A postura diante do Ser também é uma trajetória, pois como tudo no humano, tem história. Há quem reveja sua experiência e vivifique a própria existência. Desta forma, o argumento da vida reatualiza-se, confirmando seu caráter projetivo e impedindo o julgamento das narrativas que não chegaram a termo. Os balanços feitos por cada um servem ao propósito da revisão biográfica e todo fatalismo, neste sentido, se torna apenas despretensão de liberdade.
E para os objetivos deste ensaio, devemos nos perguntar: que escolha argumentou Dorian Gray?
Para esclarecermos isso – ainda que a vida em questão seja