Situações limite e medo
Professora: Paula Lacerda
Neste trabalho, pretendo discorrer sobre temas da ritualística da violência e o consequente advento dos “espaços de terror”, de acordo com Taussig. Analiso a participação do Estado no processo de construção do terror e violência sobre o indivíduo, ao decidir sobre tanto sobre a vida e morte; O poder de decisão do Estado o coloca como legítimo mediador da violência, a fim de manter ou introduzir a ordem. Procuro observar a violência como ritual na medida em que os constantes abusos, repressões, ameaças e até mesmo assassinatos são uma regra para se consolidar uma hegemonia, seja ela do Estado, do latifundiário ou do colonizador. Também procurarei entender a violência como ritual na medida em que ela se manifesta como elemento rotineiro e já imerso no contexto social analisado. O terror como via de regra e a violência como sustentáculo desse processo. O excesso da violência pelo próprio excesso, como elemento pedagogizador e inerente às situações que observei. As variadas formas com que a violência se transmite nas relações não é algo geral e constante: É cabível de mudanças a todos os momentos, representando uma rede de relações de poder, acordos tácitos, consentimentos e rearranjos baseados na convivência diária de determinada situação. A violência não é restrita somente ao plano físico; Ela é capaz de surgir tanto num cano fumegante quanto na repressão diária de um assentado, vivendo em regime de medo. Este caráter situacional da violência, amparado muitas vezes pela égide do progresso, do novo, é o que pretendo analisar. A situação-limite impõe novos valores de convivência entre um grupo social, configurando assim fatores como medo, sofrimento, repressão e perseguição em maior ou menor escala, a fim de subjugar um grupo social ou até mesmo erradicá-lo. Assim como no argumento de Juliana Farias, em que as sucessivas investidas do próprio Estado e a marginalização dos favelados o configuram como “população matável”,