Género e Recursos Educativos Digitais de História
Digitais de História
Teresa Pinto – CEMRI, Universidade Aberta
A questão da integração da dimensão de género nos recursos educativos digitais (RED) não se coloca só quando se concretiza o produto (escreve-se no masculino ou no feminino; usam-se personagens femininas ou masculinas; apresentam-se figuras masculinas, femininas ou de coletivos mistos, em que contexto, papel ou função) mas coloca-se a montante: na perspetiva sobre o conhecimento e na seleção do que é objeto de aprendizagem. É a partir destas opções iniciais que os conteúdos (científicos, verbais, visuais, gráficos, sonoros) vão sendo restringidos – e marcados, seja pela exclusão do feminino ou do masculino, seja pela estereotipia – ou vão configurando quadros mais diversificados e integradores do feminino e do masculino como partes constitutivas e inalienáveis da realidade humana e social.
A integração do género1 na produção histórica, iniciada nos anos 1970 e aprofundada, sobretudo, a partir de meados da década seguinte, proporcionou um acréscimo significativo de conhecimento, fruto de uma intensa atividade historiográfica, e suscitou relevantes debates teóricos e epistemológicos em torno dos critérios de inteligibilidade histórica e da necessidade de rever objetos, conceitos, categorias, fontes e métodos (Cf. DUBY, PERROT, 1993-1995; THÉBAUD, 1998; VAQUINHAS,
2002; BOCK, COVA, 2003; VAL, 2004).
Sabemos que a história produzida atravessa diversos filtros (um deles o da própria historiografia dominante) até se tornar história transmitida. Este desfasamento é particularmente visível nos recursos educativos, em geral pouco sintonizados com os resultados da investigação mais recente
(Cf. TORGAL, 1996). Verifica-se, assim, que o conhecimento histórico transmitido por esses recursos reforça uma perspetiva cristalizada do saber, um saber acumulativo, inquestionável e imbuído de ilusões positivistas. Nesta consonância compreende-se, por exemplo, a