Ser é ser percebido
George Berkeley, foi massacrado pela crítica de sua época apenas por afirmar, em 1710, de forma singela, que a matéria não existe
. Sim, aquela mesma matéria tão utilizada pelos filósofos naturais da época, a matéria que servia de fundamento para toda a explicação mecanicista do mundo, seria nada mais e nada menos do que impossível, contraditória, inconcebível e, portanto, inexistente. Pelo menos era isso o que pensava Berkeley. Descartes?
Errado. Locke? Errado. O grande Isaac Newton? Sim, até ele estava errado. Na verdade, quase todos os filósofos da Idade Média e da Antiguidade estavam, imagine, errados, porque a
“matéria” criticada por Berkeley abrangia também toda substância, substrato, essência ou ocasião. Ninguém escapou, nem mesmo Aristóteles e os Escolásticos. Eles sempre refletiram sobre palavras sem significado. Assim pensava Berkeley.
Segundo o Imaterialismo, a matéria, ou qualquer existência não percebida, é impossível. Daí vem a tese de que o ser das coisas está em serem percebidas, ou seja, que
“esse
é percipi” . Contudo, um outro aspecto da filosofia de Berkeley causa uma perplexidade análoga em relação a essa tese: ao mesmo tempo que afirma a impossibilidade da matéria e a subjetividade de todas as propriedades sensíveis, ele diz que sua filosofia está em perfeita sintonia com o senso comum
. “Como?” tendemos a perguntar. Como é possível que uma filosofia que nega a existência da matéria pode ser compatível com as crenças do homem comum, dado que a mais fundamental delas é que a existência do mundo não depende de nossa própria existência?
O objetivo do presente trabalho é responder a esse desafio. Pretendo investigar ao longo dos sete capítulos que se seguem, cada um tratando de certos temas fundamentais da
filosofia