Senhora
Sob o argumento de que a literatura constitui uma forma especial de expressar e transmitir uma mensagem, caracterizando-se pela plurifuncionalidade que o discurso poético atinge ao veicular as informações e ideologias, expressas pela organização de elementos específicos que regem a narratividade, pode-se dizer que são esses elementos esquematizados que determinam as concretizações específicas do leitor. Assim, há em Senhora uma análise em profundidade de certos temas delicados do contexto social daquela época, em que são abordados os temas do casamento por interesse, da ascensão social a qualquer preço e principalmente a independência feminina.
Apresentando severas críticas à hipocrisia de seu tempo, pois questiona o uso do dote que regia os casamentos da época e o papel a que a mulher era submetida, sendo preterida em seu amor dependendo das condições financeiras, Senhora é considerado um romance brasileiro precursor de discurso feminista. Porém, embora identifique um perfil feminino que se rebela contra a hegemonia dominante masculina, para uma análise mais substanciosa acerca da configuração da identidade feminina em Senhora, a partir da personagem de Aurélia Camargo, deve-se observar o modo como o narrador se apresenta dentro da história, no plano do discurso ou da enunciação, e os elementos constitutivos do romance no plano da fábula ou da diegese ( plano do enunciado). Nesse pressuposto, para uma leitura fidedigna de Senhora é preciso distinguir plano do discurso e plano da enunciação
( manifestação do ato da fala ou da escrita).
No plano do discurso podemos dizer que o narrador é heterodiegético, pois se valeu de um distanciamento para apresentar o