senhora
José de Alencar
INTRODUÇÃO
Senhora, de José de Alencar, encontra-se entre seus romances urbanos. Enquanto romance urbano, a obra é fundamentalmente uma crônica de costumes, um retrato da Corte ou da sociedade fluminense na segunda metade do século 19. O texto focaliza a época em que o próprio escritor viveu. Nesse sentido, é muito apropriado o comentário do crítico Alfredo Bosi sobre os romances urbanos do autor: Alencar, cioso da própria liberdade, navega feliz nas águas do remoto e do longínquo. É sempre com menoscabo ou surda irritação que olha o presente, o progresso, a vida em sociedade; e quando se detém no juízo da civilização, é para deplorar a pouquidade das relações cortesãs, sujeitas ao Moloc do dinheiro. Daí o mordente de suas melhores páginas dedicadas aos costumes burgueses em Senhora e Lucíola. Em outras palavras, Alencar critica a sociedade que lhe é contemporânea, não a partir da perspectiva de uma transformação futura, mas na da nostalgia de um passado que só na ficção pode reviver plenamente. É em Senhora e Lucíola que atinge o ponto alto em termos de crítica social e procura se aprofundar na psicologia das personagens femininas, traçando o que se convencionou chamar de seus perfis de mulher. Publicado em 1875, Senhora traz características românticas, como se pode ver em seu enredo, simples e atrelado aos esquemas dos dramas de amor do Romantismo.
SÍNTESE
Aurélia Camargo, filha de uma pobre costureira, apaixonou-se por Fernando Seixas, a quem namorou. Este, porém, desfez a relação, movido pela vontade se casar com uma moça rica, Adelaide Amaral. Passado algum tempo, Aurélia, já órfã, recebe uma grande herança do avô e ascende na escala social. Ainda ressentida com o antigo namorado, resolve vingar-se dele. Sabendo que Fernando, ainda solteiro, andava em dificuldades financeiras, resolve comprá-lo para marido. Na época, o Segundo Reinado, vigora o regime de casamento dotal, em que o pai da noiva (ou, no caso, ela mesma)