A Senhora
A SENHORA Subi no avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade não estava no céu; pensava certas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que “nós não podemos descer!”. O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo a sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, á espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora. Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convencê-la que não devia se abanar, mas acabei a deixando em paz. Ela precisava fazer alguma coisa para acalmar ou controlar seu medo, então tomou essa providencia. O tempo passava e a aflição daquela senhora estava realmente perturbando-me. Percebi que uma moça de aparência bondosa tentava acalmar a senhora, então levante de meu assento para oferecer a troca de lugares, mas a senhora não me deixou passar, sentei obrigatoriamente ao lado dela, que acabou confessando a mim que se sentia mais segura com um homem ao seu lado. Certamente havia piloto, copiloto e vários homens no avião, e ela preferiu este senhor de cabelos grisalhos e de moletom ao seu lado. Pediu-me licença e segurou em meu braço esquerdo, me mostrou um leve sorriso de gratidão e voltou a se abanar. Ela lembrava minha irmã, Lucia, quando pequena. Todos os sábados meu avo nos levava a um pequeno haras para ajuda-lo a dar banho nos cavalos. Lúcia perguntava quanto tempo faltava para irmos embora e, desnecessariamente, enxaguava o pano limpo e úmido todo tempo, mantendo-se então ocupada até chegar a hora de ir embora. Encarei a poltrona á frente por um bom tempo e veio uma onda de tristeza, de saudade, carência e solidão. Talvez se tivesse seguido o caminho de minha irmã Lúcia