Semi tica
1. Semiótica e filosofia
Se a redução operada quando da descrição dos dois modelos anteriores de semiologia já foi consideravelmente grande, aquela que ora se processará, na tentativa de apresentar a semiótica de Peirce, será simplesmente abismal. Para se ter uma ideia pelo menos quantitativamente redução de seu curso de linguística geral tal como aparece nas notas de alguns de seus alunos; e que o número das obras de Hjelmslev não é superior a meia dúzia. Em relação a Peirce, no entanto, chega-se a perder a própria noção de medida; seus manuscritos cobrem cerca de 70.000 páginas - além dos que se perderam - e, destas, pelo menos 10.000 são consideradas de relevante importância filosófica e fundamentais na obra do autor. Pretender resumir tudo isso a duas ou três dezenas de páginas poderia ser tomado como índice de insanidade do pretendente a tão estranha tarefa, além de ser causa de justificável riso irônico - não fosse o fato de que os estudos de Peirce, para os não-iniciados, exigem um fio de linha mínimo permitindo a entrada num labirinto de textos que continuamente se reproduzem e se sobrepõem a fim de aperfeiçoar-se. A descrição que se seguirá, portanto, não abordará mais do que os primeiros centímetros desse fio e procurará justificar-se dentro dessa dimensão. Antes de chegar ao modelo da semiótica peirciana há ainda outra observação a se fazer. Louis Hjelmslev procurava a todo custo formular um instrumento de análise do problema do sentido que estivesse isento de todo tipo de preocupações e métodos que não fossem estritamente linguísticos: e, seu modelo não deveria haver traços de filosofia, sociologia, psicologia. Pode-se dizer que a teoria de Charles Sanders Peirce (nascido em Cambridge, Mass., EUA, em 1839 e morto em 1914) é extremamente oposta à de Hjelmslev na medida em que uma teoria do sentido só pode existir no meio de um corpo físico maior - não sendo mesmo inadequado afirmar que a semiótica de Peirce é uma