Sebastianismo
Almeida Garrett, escritor de características arcádicas e românticas, do início do século XIX, é autor de algumas das obras fundamentais da Literatura Portuguesa, entre as quais Viagens na Minha Terra é o expoente máximo. Trata-se de um olhar crítico da sociedade portuguesa, com descrições deliciosas sobre a nobilitação de muitos burgueses que outrora haviam desdito das práticas da Nobreza e, afinal, acabaram por conhecer o mesmo fim...
Em Frei Luís de Sousa, o mito sebastianista está bem presente. A história da peça aborda uma autêntica catástrofe que se abateu sobre a vida de uma família nobre do final do século XVI. Tem como característica peculiar o facto de todas as personagens assumirem, ao longo do enredo, posições coerentes e de uma grande dignidade, pelo que é difícil definir quem é a personagem principal, da mesma forma que, no final, perante tão graves consequências de toda a tragédia abatida, surge no leitor uma sensação de profunda injustiça.
De uma forma resumida, o enredo é o seguinte: D. João de Portugal, um nobre muito respeitado na sociedade, desapareceu, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir, por sinal a mesma na qual o rei D. Sebastião perdeu a vida. Contudo, a morte de D. João de Portugal nunca foi provada, passando-se exactamente o mesmo com D. Sebastião.
Entretanto, a mulher de D. João de Portugal, D. Madalena, esperou sete anos pelo marido, uma espera que se revelou infrutífera. Pese ter casado com D. João de Portugal, a meio da peça o leitor dá-se conta do facto de ela nunca o ter amado verdadeiramente. Pelo contrário, o homem que amava era Manuel de Sousa Coutinho, um português fiel aos valores patrióticos e inconformado com o domínio espanhol, que se vivia na altura em Portugal (1599).
Tomando uma atitude corajosa, Manuel e Madalena vão desafiar a sorte (hybris), casando sem ter a certeza da morte de D. João de Portugal. E aí começa a verdadeira dimensão trágica desta peça