Sabendo usar não vai faltar
Benjamin Dessus
Le Monde Diplomatique (segunda-feira 1º de novembro de 2004)
Existe uma categoria de cenário que fundamenta-se na idéia de uma relação constante, vizinha da unidade, entre crescimento da demanda de energia e crescimento econômico
Aceleração inquietante da freqüência e da violência de ciclones devastadores; calor excessivo atribuído ao efeito estufa, pelo qual, diz-se, as energias fósseis seriam responsáveis; operações no Oriente Próximo assim que os Estados Unidos entrevêem o menor risco de falta de petróleo suscetível de ameaçar seu estilo de vida, um pouquinho que seja; temor de um novo Chernobil ou de um atentado suicida à usina de tratamento dos rejeitos nucleares de Haia; preço do barril de petróleo nas alturas sem que se compreenda bem o porquê: os meios de comunicação regurgitam imagens cada uma mais inquietante do que a outra no campo da energia.
Deixados para trás, preocupados e sentindo-se vagamente culpados, os cidadãos ouvem o discurso de seus governantes, catastrofista e tranqüilizador ao mesmo tempo. Pinta-se-lhes um quadro, de preferência apocalíptico, dos perigos que os espreitam a curto e a médio prazo, mas se os acalma imediatamente: por pouco que exerçam sua solidariedade planetária apagando a luz quando saem do escritório, mandando alguns cobertores para os flagelados do Haiti e deixando, na França, que a EDF1, Total, Areva e o Ministério da Indústria tomem conta de seu futuro, podem dormir tranqüilos.
Pois as soluções estão ali, ao alcance da mão: energia nuclear limpa, fusão e hidrogênio salvarão definitivamente a humanidade daqui a 50 ou 100 anos, se forem iniciados com vigor os programas de pesquisa necessários. Enquanto esperam, os cidadãos devem moderar seu consumo individual, sem por isso questionar a necessidade de assegurar mercados confortáveis aos aparelhos mais vorazes em energia que os industriais oferecem, do veículo 4x42 ao ar condicionado. Aí entram tanto o emprego quanto a