Resumo: introdução na política
A política se baseia no fato da pluralidade humana. Diz respeito à coexistência e associação de homens diferentes. Os homens se organizam politicamente segundo certos atributos comuns essenciais existentes em, ou abstraídos de, um absoluto caos de diferença. Nessa forma de organização, toda diferenciação original é efetivamente erradicada. A ruína da política provém da forma como os corpos políticos se desenvolvem a partir da família. A profunda importância da família repousa sobre o fato de estar o mundo organizado de tal modo que não há nele lugar para o indivíduo, ou seja, para quem quer que seja diferente. As famílias são fundadas como abrigos, poderosas fortalezas num mundo inóspito e estranho no qual queremos introduzir o parentesco. Este desejo conduz à perversão fundamental da política, porque abole o atributo básico da pluralidade, ou melhor, confisca-a pela introdução do conceito de parentesco. O homem só existe na política na forma de direitos iguais que os absolutamente diferentes garantem uns aos outros. Essa garantia voluntária e essa outorga do direito à igualdade jurídica reconhecem a pluralidade dos homens, que podem então dar graças a si mesmos por sua pluralidade e ao criador do homem por sua existência. Há duas boas razões para a filosofia nunca ter encontrado um lugar onde a política pudesse concretizar-se. A primeira é a suposição de que há no homem algo de político que pertence à sua essência. Isso simplesmente não acontece; o homem é apolítico. A política surge entre os homens; portanto, absolutamente fora do homem. Não existe, por conseguinte, nenhuma substância política. A solução do Ocidente para escapar da impossibilidade da política no marco do seu mito da criação é transformar a política em história ou substituí-la por esta. Na ideia de história mundial, a multiplicidade de homens é dissolvida em um único indivíduo humano, que passa a ser chamado de humanidade. Tal é a origem do aspecto