Resenha Vidas Secas
Rio de Janeiro: Editora Record, 2013, 174p.
Matheus Valdemir Germino1
A literatura se coloca para o historiador como um documento fecundo a interpretação e definição de uma realidade social. A narrativa-intriga, Vidas secas, publicado pela primeira vez em 1938 pelo alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), pertence ao movimento neorrealista regionalista da primeira metade dos anos 1930, exercendo importante influência na literatura brasileira desse período, que corresponde a segunda fase modernista (19301945). Como nos chama a atenção Antonio Candido, uma análise crítica de uma obra literária deve chamar a atenção para os aspectos sociológicos que a compõe. “Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno.”2 É na esteira de Candido que desenvolveremos uma análise crítica da obra, buscando, além de uma leitura sociológica efetuar um diálogo com a historiografia.
Para iniciar, torna-se pertinente uma introdução à vida de Graciliano Ramos, destacando suas experiências sociais e políticas dentro dos quadros do Sertão nordestino. O pai de Graciliano, Sebastião Ramos, fora negociante e humilde criador de gado, tendo experienciado o efeito da seca e suas consequências humanas. Esse fato irá marcar a infância de Graciliano, que evocaria essa realidade e as pessoas com quem conviveu em suas reconstruções literárias. Inicia-se na vida como comerciante, porém, não satisfeito, procura inserir-se na imprensa onde publica em periódicos capítulos que futuramente seriam inseridos em suas obras. Como experiência política cabe destacar sua atuação como prefeito de palmeira dos Índios, uma carreira fugaz e sem perspectivas. Em maio de 1936, acusado de ser comunista, é preso na cidade de Maceió, ficando em cárcere por meses onde recusa a se defender, pois tal