Resenha sobre São Bernardo

Resenha sobre S. Bernardo – Graciliano Ramos

Assim como as demais obras de Graciliano Ramos, S. Bernardo é instigante. Um leitor desatento pode ler o livro e dizer que se trata apenas da história de um fazendeiro chucro, no entanto, um leitor interessado, aquele que consegue extrair de um livro informações novas a cada releitura, este sim percebe a gama de situações e conflitos humanos que aparecem em S. Bernardo. Uma primeira questão a se analisar é o fato de o narrador da história ser em primeira pessoa. O diferencial, na verdade, não é como mas quem narra a história. Trata-se de um romance super regionalista, pois o narrador, detentor do poder no romance, é Paulo Honório, um personagem iletrado, grosseiro, rude. Mais surpreendente que o personagem iletrado ser o narrador é o fato de o próprio querer escrever um livro. Ora, Paulo Honório mesmo ironiza sua falta de conhecimento das letras no capítulo II quando diz: “O que é certo é que, a respeito de letras, sou versado em estatística, pecuária, agricultura, escrituração mercantil, conhecimentos inúteis neste gênero.” Essa é uma forma de dizer que a literatura não é para qualquer um, o que pode ser observado ainda com o trecho do capítulo I em que Paulo Honório contesta os escritos de Gondim e este replica: “A literatura é a literatura, Seu Paulo. (...) Se eu fosse escrever como falo ninguém me lia.” Esse é um pensamento comum a grande parte das pessoas que não têm muito estudo, pensam que a cultura, as artes, a literatura, são acessíveis apenas aos intelectuais e às mais altas classes sociais. No entanto, se expressar através da oralidade, da escrita e das artes é uma necessidade para o ser humano, tanto o é que o próprio Paulo Honório se acha um “invasor” desse meio literário mas, no capítulo XIX relata, de forma bem simples, essa sua necessidade, que é de tantos outros, no trecho: “Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a