RESENHA "Deus: ilusão ou realidade"
De tradição católica, Jung Mo Sung é teólogo e cientista da religião. Possui pós-doutorado, é professor na Universidade Metodista de São Paulo e autor de vários livros. Confesso minha admiração pelo seu jeito de fazer teologia: Desmond Tutu disse que toda reflexão teológica que não comece pelo pobre é cínica, e é com esta máxima, que percebo nos livros que li do Jung, que seu labor teológico se faz a partir desta premissa. Para Jung, fazer teologia não é tagarelar sobre o ser divino, a não ser que este se revele no próximo. E se isso acontece, é nessa relação que temos de buscar sentido para existência. Deus revelou-Se em Jesus, e este, no outro. A condição relacional do humano é que dá sentido à reflexão teológica.
Na obra, o autor parte da premissa, que em sua visão é fundamental: a discussão dita racional e científica a respeito da existência de Deus é estéril. Argumentos filosóficos sobre Deus são inférteis. Um deus que se permite provar pela razão não é Deus, e sim uma construção mental, uma imagem elaborada. Jung não segue a lógica dos autores sistemáticos, ou de obras deste cunho. Não quer trazer à tona o que chamo de “conceitos rígidos” da filosofia para falar sobre Deus. “Não-contradição, eternidade, tempo, causalidade, onipotência, onisciência, onipresença”, são conceitos que passam longe da obra.
Com isto, não quero que o leitor pense que o livro é raso. Pelo contrário. Ele flui a partir do uso e abuso de outros conceitos, que chamo de “mais líquidos”: existência, relação, outro, alteridade (este aparece implicitamente e permeia toda a obra), amor. Jung sustenta que nosso problema com Deus não se dá no campo teórico, mas no campo da experiência/existência. A experiência modifica a forma pela qual enxergamos o mundo. Deus não pode