Recensão
Sophia de Mello Breyner, 1989 “ O Silêncio” in Histórias da Terra e do Mar
3ªed., Texto Editora, Lisboa
O conto “ O silêncio”, de Sophia de Mello Breyner, é uma verdadeira possibilidade para todos os grandes e pequenos leitores. Neste é possível verificar a ambiguidade encontrada na pequena palavra cujo significado difere entre a ausência de ruido e o estado de quem se abstém ou párapara de falar, silêncio. Conhecida como poetisa, musa e proprietária do dom da palavra a autora deste conto faz jus aos elogios, proporcionando múltiplos sentimentos a quem lê este conto. Começando por uma rotina que qualquer mulher está habituada a ter, logo desde o início este conto começa a provocar a sensação de calma, felicidade, limpeza e familiaridade, (“sentia dentro de si uma grande limpeza “, “Havia um grande sossego”, “Era ali o seu reino”) onde é notória a capacidade do silêncio de se desenhar em todos os pormenores das peças e paredes da casa, que tal como a alma de joana, a rapariga do conto, estariam resplandecentes e sentiam que desde sempre era ali o seu lugar.
Rapidamente o silêncio deste conto se torna na razão da atenção dada ao pormenor que é corrompido por gritos de dor de angústia que desaparecem na escuridão, e criam no leitor sentimentos de desespero e inquietude que no entanto o agarram na expectativa (“ os gritos tinham aberto, o terror, a desordem, a divisão, o pânico penetravam no interior da casa, do mundo, da noite”, “Gritava contra o silêncio.”). E o tal silêncio volta, agora na vertente de medo, de perturbação e de solidão numa casa que passa de reino a desconhecido, dando ao leitor a noção do silêncio desesperante. (“Um silêncio opaco e sinistro,” “Joana atravessou como estrangeira a sua casa”)
Para concluir e tal como nas nossas vidas, o silêncio é neste conto o despoletar de várias sensações que vão de paz a inquietude, de liberdade a solidão, e esta é a razão pela qual a escrita do mesmo deve ser considerada admirável e a