Realidade ou Fantasia
1. É fantasia a crença, comum na pedagogia, de que a educação seria transformadora, porque é apenas o extremo de outra afirmação extremada, segundo a qual educação é reprodutora. O irônico dessa expectativa pedagógica está no fato de que, para ser transformadora, a educação teria, primeiro, que quebrar o aprisionamento pedagógico. Sendo visão totalmente setorialista, perde a noção de interdisciplinaridade estratégica, além de abandonar a relação indispensável com a infra-estrutura, sobretudo para um olhar crítico de inspiração marxista. É particularmente problemático esperar tamanho impacto de um tipo de educação reconhecidamente decadente e trabalhado em cursos precários. No mínimo, não existe rigor na definição do que seria transformação social, reduzida já a um discurso desconexo e repetido.
2. É fantasia inventar que o trabalhador perde o emprego apenas porque não tem estudo suficiente, porque a razão maior é outra: o sistema produtivo é incapaz de absorver a todos os trabalhadores, mesmo que todos tivessem PhD, porque esse não é um compromisso central da produtividade. Certamente, sem estudos mais qualitativos não dá para sonhar mais alto, mas os pesadelos aparecem também para quem estuda. A visão unilateral da qualidade formal favorece apenas a competitividade, deixando o trabalhador entregue ás pressões do mercado.
3. É fantasia pretender que propostas apenas instrucionistas consigam desenhar o perfil de um ser humano capaz de saber pensar, porque treinamento, nem de longe, é educação. Não dá para formar sem informar, mas enquanto este é insumo apenas, o outro é o objetivo como tal. Esperamos de aulas mirradas, meramente expositivas e reprodutivas, o milagre impossível de reinventar um futuro que pede todo o contrário, ou seja, uma sociedade crítica e criativa, autônoma, dona de projeto próprio de desenvolvimento.
4. É fantasia esperar de um professor que não sabe aprender a epopéia complexa de fazer um aluno