Razão e Revolução
1907. Pablo Picasso, personagem símbolo das artes do século XX, concluía a obra-chave as donzelas de Avignom. As donzelas parecem zombar das convenções para criar uma ilusão de realidade. Cadê a perspectiva? Onde está o sombreado dos elementos para composição para sabermos o lugar em que a luz incide? As figuras encontram-se fragmentadas, apontando para direções distintas, e pintadas com estilos diferentes.
As três donzelas da esquerda têm os rostos moldados segundo antigas esculturas ibéricas. As da direita são máscaras africanas. Picasso, com um olho em suas origens hispânicas e outro na escultura negra, estava, agressivamente, atacando um estilo consagrado de pintura. (...)
Apesar de alguns artistas como Picasso estarem anunciando a crise da cultura européia antes da Primeira Guerra Mundial, ainda predominava um certo fascínio iluminista pela tecnologia, que conduziria o homem ao progresso, e pela luz da ciência, que produziria homens cada vez melhores e mais sábios. Mas o que a racionalidade tecnológica produziu foi a mais devastadora guerra da história da humanidade. “as luzes se apagaram em toda a Europa”, disse o secretário das Relações Exteriores da Grã-Bretanha na noite em que a Inglaterra e a Alemanha entraram em guerra.
O progresso tecnológico capacitou os combatentes a se exterminarem com uma eficiência sem precedentes. A Europa se converteu num matadouro: cerca de 17 milhões de mortos e 20 milhões de feridos. Armas químicas, aviões bombardeiros e submarinos inauguraram a era do massacre.
Em 1916, em meio à guerra, Marcel Duchamp (1887-1968) produzia a pintura Roda de bicicleta.
Nem a roda servia para andar, nem o banco servia para sentar. Algo aparentemente irracional, ilógico, diriam muitos. “Isso não é arte!”, diriam tantos outros. O que a obra de Duchamp parecia estar dizendo era: “Se essa tecnologia dita lógica e racional, que inevitavelmente conduziria o homem ao progresso,