Quem educa os educadores?
Desconstruir e reconstruir a autonomia –
Reflexões sobre a educação, Auschwitz e o contemporâneo
Introdução
Parece que falar em autonomia na área de educação já se tornou um discurso comum, repetitivo e por muitas vezes carente de significado. Isso ocorre por que geralmente a superficialidade com que a questão é tratada, ou a dificuldade de ampliar a esfera de discussão sobre o tema, faz com que este debate se esgote sempre no que já foi dito, não revelando nenhum tipo de novidade para a prática em educação, filosofia ou psicologia. Pode-se problematizar a questão da autonomia e suas possibilidades sob diversos eixos e aspectos. Este ensaio busca analisá-la a partir dos apontamentos feitos por Theodor Adorno em sua obra Educação após Auschwitz, de meados dos anos de
1965 e 1966, indicando a relação sinuosa entre a idéia de autonomia, e as reais tarefas para sua realização, na razão e no corpo, para que o objetivo permanente e fundamental da educação, que segundo Adorno é a exigência que Auschwitz1não se repita, possa se concretizar. Contudo é importante que tal intento não apenas se restrinja ao debate teórico e conceitual, mas que permita pensar a função prática dos educadores, seu engajamento político, para a emancipação dos educandos, numa sociedade cada vez mais produtiva e guiada pela razão técnica – techné-lógos – e instrumental.
É de muita valia uma primeira indagação, para que a pergunta que pretendemos responder fique clara: Pode ainda a civilização caminhar para uma barbárie semelhante à Auschwitz? Ora, para responder a tal questionamento, Adorno vê a necessidade de uma investigação das causas que levaram a tal barbárie contra a qual se dirige toda a educação (cf. ADORNO, 1995, pg. 119). Neste propósito não temos o intuito de discutir o evento catastrófico de Auschwitz – ou de qualquer outro genocídio, como a bomba atômica, guerras e etc. – mas adentrar no universo que ainda permanece oculto, nas