Pós graduada
A educação dos golpistas: cultura militar, influência francesa e golpe de
1964
João Roberto Martins Filho
Universidade Federal de São Carlos
As aulas começaram no dia 31 de agosto de 1962, na sala do cinema do prédio do Estado-Maior do Exército (EME), no Rio de Janeiro. A partir daí, ocorreriam sempre às segundas, quartas e sextas-feiras, com início às 13 hs (no total, vinte e duas sessões de cinqüenta minutos). Dispensava-se a túnica, mas a freqüência era obrigatória. Havia um diretor, o general Aurélio Alves Ferreira, um instrutor chefe, o coronel Mário de Barros Cavalcanti e três instrutores, um tenente-coronel e dois majores (dos quais um parece ter sido promovido no decorrer do curso). O público-alvo eram sessenta oficiais das cinco seções do
EME, vinte outros das quatro diretorias do Exército, além de cinco oficiais da
Marinha e cinco da Força Aérea. Com algumas mudanças, as apresentações se basearam no currículo do Primeiro Curso de Guerra Contra-Revolucionária, que três oficiais brasileiros assistiram na Argentina no ano anterior.1 Pouco mais de seis meses antes, o chefe do EME, general Humberto de Alencar Castello Branco, em palestra destinada a lançar simbolicamente a nova programação, explicou que esta foi resultado de decisão tomada pelo Estado-Maior do Exército, alguns meses atrás, no sentido de que todos os estabelecimentos de ensino daquela força promovessem um novo currículo que tratasse de “questões ideológicas, Guerra
Revolucionária e outros problemas correlatos”. Na verdade, o estágio deveria ter sido realizado em 1961, mas, como lembrou o próprio general Castello Branco, o
Exército sofria “ainda de conseqüências da última crise política”. Referia-se ao episódio da renúncia de Jânio Quadros, em fins de agosto de 1961, que desnorteou a corrente militar anticomunista e atrasou um pouco os planos do
EME. De todo modo, no segundo semestre de 1962, o curso podia começar, “com o objetivo de esclarecer, orientar e