Professor

ANÁLISE DO POEMA “MARINHA”, DE VINICIUS DE MORAES

Kaio Carvalho Carmona[1]

Este trabalho pretende apontar alguns marcos da poética de Vinicius de Moraes, como o lirismo clássico de seus textos, bem como uma leitura do erotismo, tomando como exemplo o poema “Marinho”, que, nesta análise, ganha um caráter exemplificador da lírica do poeta no livro Poemas, Sonetos e Baladas, de 1946. Esta obra, considerada pelo próprio autor como seu melhor texto, evidencia o tom sublime que perpassa toda a sua produção. A partir desse poema, é possível reconhecer os rastros poéticos de Vinicius que foram deixados, de certo modo, em segundo plano pela crítica de seu tempo. Tais marcas pertencem às correntes líricas que atravessam toda a poesia brasileira e a recolocam em um discurso de ordem elevada e sublime, mas que ora é abafada pelo peso histórico e contextual da literatura e do mundo, ora ressurge com novo fôlego retomando o lirismo clássico. O caso de Vinicius parece ser semelhante: diante da força de libertação cavada pelo Modernismo brasileiro somada à proposta e projeto concretistas, sua veia lírica caminhou por rios secundários e só agora, a partir do fim do século XX, vem sendo retomada pela crítica. O tom sublime de seus poemas e o lirismo de seus sonetos parecem ter cedido espaço para uma poesia marcada por uma estética de ruptura ou engajamento do século passado, afirmada pelas vanguardas. No poema “Marinha”, é possível reconhecer estas marcas líricas que caminham em direção a uma poética pura.

MARINHA
Na praia de coisas brancas
Abrem-se às ondas cativas Conchas brancas, coxas brancas
Águas-vivas.

Aos mergulhares do bando Afloram perspectivas Redondas, se aglutinando
Volitivas.

E as ondas de pontas roxas Vão e vêm, verdes e esquivas Vagabundas como