Pro dia nascer feliz
Para o diretor João Jardim, também diretor do célebre documentário “Janela da Alma”; “Pro dia nascer feliz é muito mais uma discussão sobre desperdício, falta de oportunidades que tem o jovem brasileiro”[1]. Esse desperdício que se refere o diretor, é expresso logo na primeira cena do filme por uma voz adolescente: “As vezes as pessoas realmente tem que deixar de lado aquilo que elas acreditam pra se conservar a vida.” Deixar de lado aquilo que se acredita é deixar de lado a motivação para ser alguém, para estudar, para se tornar um cidadão capaz de perceber e alterar a realidade. Essa fala é o retrato mais fiel que tudo vai mal e que é necessário a construção de uma nova cultura escolar que humanize um pouco o mundo desumanizado no qual nos encontramos e que nos arrasta imperdoavelmente a pensar que “as coisas são como são e nada se pode fazer diante disso”. Esse é de fato o desperdício, que se dá pela desigualdade ao acesso de uma educação de qualidade e mínimas condições de se estudar, como o transporte.
Durante as duas semanas de filmagens do documentário em Manari, Pernambuco as crianças só conseguiram ter três dias de aula, porque o ônibus estava quebrado. Embora “o devido transporte deve ser objeto de esmero e atenção da parte dos gestores escolares no que se refere à sua relação com as autoridades incumbidas desses rendimentos.”[2], o que fazer quando as autoridades incumbidas desses rendimentos tão pouco tem condições? No caso de Manari, por exemplo, se trata do município mais pobre do Brasil, “cidade onde se tem o menor Desenvolvimento Humano do país