Prefácio interessantíssimo
O Prefácio Interessantíssimo vale como verdadeiro manifesto-programa do Modernismo brasileiro, uma plataforma teórica, que será retomada e aprofundada pelo próprio Mário de Andrade em A escrava que Não é Isaura (1924). É onde expõe suas idéias a respeito de poesia e declara ter fundado o desvairismo.
Nessa poética aberta, há afinidades com a teoria da escrita automática, que os surrealistas pregavam como forma de liberar as zonas noturnas do psiquismo, o ditado do inconsciente. Ao lado dessa entrega lírica às matizes pré-conscientes da linguagem, o Prefácio mostra a admiração da experiência cubista, que, por meio da deformação abstrata, rompe os moldes pseudoclássicos da arte acadêmica. O “Prefácio” não fica nestas generalidades, há uma descrição dos processos de estilo que conferem à obra a medida de sua modernidade — a teoria da palavra em liberdade, os princípios de colagem (ou montagem) que caracterizavam a pintura de vanguarda na época, a elisão, a parataxe e as rupturas sintáticas como meios correntes na poesia moderna para exprimir o novo ambiente, objetivo e subjetivo, em que vive o homem da grande cidade, a poesia-telegrama, a visão global de uma cidade e sua vida, ironia, versos livres, arcaísmos, coloquialismos, aliterações, rimas complicadas, trechos em língua estrangeira, eruditismo etc.
A obra não tem um roteiro, um enredo. É um livro de poesias. A temática, a musa das poesias, é a cidade de São