Preconceito Lingu Stico
1. Reconhecimento da crise
Muitos defendem que a norma culta deve constituir o objeto de ensino/aprendizagem em sala de aula. Mas o que é e onde está essa norma culta?
Não é difícil perceber que a norma culta — por diversas razões de ordem política, econômica, social, cultural — é algo reservado a poucas pessoas no Brasil. Podemos identificar três problemas básicos a esse respeito:
Primeiro, a quantidade injustificável de analfabetos que existe neste país.
Há um alto índice de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que não frequentaram a escola tempo suficiente para desenvolver as habilidades de leitura e redação. A média nacional de educação da força de trabalho é de 3,9 anos de escola: seriam, no total, 45 milhões de analfabetos funcionais ou semi-analfabetos.
Numa lista de 175 países elaborada pela ONU, o Brasil ocupa o 93° lugar em índice de escolarização, ficando atrás até mesmo de países como a Etiópia e a Índia, exemplos clássicos de subdesenvolvimento crônico. Só que o Brasil é uma das dez maiores economias do planeta! Ocupamos também o 80° lugar em investimentos na educação. Tudo isso num país cuja Constituição diz que a educação é “dever do Estado”.
Segundo, por razões históricas e culturais, a maioria das pessoas alfabetizadas não cultivam nem desenvolvem suas habilidades linguísticas no nível da norma culta. Ler e, sobretudo, escrever não fazem parte da cultura das nossas classes sociais alfabetizadas. Isso se dá pela disseminação de que português é difícil, por grande parte das redes de ensino.
Ensino esse que em vez de incentivar o uso das habilidades linguísticas do indivíduo deixando-o expressar-se livremente para somente depois corrigir sua fala ou sua escrita, age exatamente ao contrário: interrompendo o fluxo natural da expressão e da comunicação com a atitude corretiva (e muitas vezes punitiva), deixando um sentimento de incapacidade. O problema certamente está no modo como se ensina