Poesia práxis
Assim, podemos afirmar que a poesia-práxis tem uma abertura para diversas interpretações, ou seja, a subjetividade mostrada pelo discurso permite ao leitor uma familiaridade com a linguagem manifestada sob vários ângulos.
Sob essa perspectiva, Mário e Cassiano Ricardo mostraram suas habilidades artísticas partindo do principio de que elas, em vez de se apresentarem como um objeto de natureza fechada, evidenciavam-se como algo transformável. Assim, de modo a constatarmos tais aspectos, analisemos uma das criações de Cassiano Ricardo, intitulada:
Os nomes dados à terra descoberta
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome de ilha de Vera-Cruz. Ilha cheia de graça Ilha cheia de pássaros Ilha cheia de luz. Ilha verde onde havia mulheres morenas e nuas anhangás a sonhar com histórias de luas e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.
Depois mudaram-lhe o nome pra terra de Santa Cruz. Terra cheia de graça Terra cheia de pássaros Terra cheia de luz.
A grande terra girassol onde havia guerreiros de tanga e onças ruivas deitadas à sombra das árvores mosqueadas de sol
Mas como houvesse em abundância, certa madeira cor de sangue, cor de brasa e como o fogo da manhã selvagem fosse um brasido no carvão noturno da paisagem, e como a Terra fosse de árvores vermelhas e se houvesse mostrado assaz gentil, deram-lhe o nome de Brasil. Brasil cheio de graça Brasil cheio de pássaros Brasil cheio de luz.
Trata-se de uma espécie de denúncia aos traços demarcados pela colonização portuguesa, tão presentes na história brasileira. Imbuído no propósito de exploração das belezas aqui existentes, o colonizador não via senão o interesse e a ganância, aspectos esses manifestado pelo eu lírico.