Poder imperial
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Como ir-se além da percepção limitada e superficial do capital econômico e com isso produzir uma percepção verdadeiramente crítica da realidade social brasileira? Esse foi precisamente o desafio que nos propusemos nas duas pesquisas que redundaram em dois trabalhos publicados subseqüentemente: um trabalho sobre os “muito precarizados” socialmente, que chamamos provocativamente de “ralé” 22 ; e o trabalho sobre os “batalhadores” 23 , ou seja, os também precarizados socialmente, mas com maiores recursos e possibilidade de ascensão social.
Os dois estudos devem ser analisados de modo combinado: só se pode “compreender” porque alguns brasileiros ascenderam socialmente se compreendemos também as razões que impossibilitaram outros brasileiros de ascender ou de terem tido ascensão menor. Os dois estudos representam, portanto, um esforço de compreender e responder àquela questão central – a única verdadeiramente fundamental - deixada de lado pelo economicismo, seja da produção seja do consumo: afinal, o que é que faz com que alguns ascendam e outros não? Essa é a questão decisiva posto que apenas ela pode “compreender” e “explicar” as “razões profundas tanto da ascensão quanto da marginalidade social” algo que os dados e números – que são “informações” importantes, mas, jamais, “interpretações” - por si só jamais poderão fazer.
Isso não significa, obviamente, que o conhecimento estatístico não seja fundamental. Pelo contrário, nós construímos nossos “tipos ideais” das classes populares, nas duas pesquisas, com base em conhecimento estatístico, por um lado, e pelo seu “potencial significativo”, por outro lado. Assim, por exemplo, estudamos as empregadas domésticas, no livro da