Planos
Edwiges Maria Morato**
“É um homem falando que encontramos no mundo, um homem falando a outro homem, e a linguagem ensina a própria definição de homem” (É. Benveniste)
RESUMO: A finalidade deste artigo é, a partir da teorização que se projeta na área da Lingüística, discutir alguns aspectos da reflexão vigotskiana sobre a linguagem. Especialmente, interessa-nos refletir acerca das propriedades semiológicas que Vigotski, em seus escritos, estabelece entre linguagem e cognição. Nesse sentido, o presente trabalho inter-relaciona Vigotski com alguns autores com os quais manteria um “ar de família”, como Humboldt, Bakhtin e Benveniste, a fim de explorar sua perspectiva enunciativa da relação entre linguagem e cognição.
Palavras-chave: Significação, enunciação, cognição, interação, lingüística
Introdução: a relevância do legado vigotskiano para a reflexão lingüística
A variedade de temas que Vigotski abordou parece buscar um sentido unitário que, a despeito das contradições e incongruências teóricas
* Texto originalmente publicado nos anais de um ciclo de colóquios promovido pela Faculdade de Educação da Unicamp em torno do “Centenário de nascimento de Piaget, Freinet, Vigotski e Jakobson”, organizado por Ana Luíza Smolka (1997). Com bem poucas – mas importantes – alterações, o presente texto representa uma segunda versão do apresentado no referido evento. ** Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)/Unicamp. E-mail: edwiges@iel.unicamp.br
Educação & Sociedade, ano XXI, nº 71, Julho/00
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que podemos identificar em seu percurso intelectual, faz desse construto um corpo cujas partes não podemos considerar isoladamente. Eis porque a insulação de algumas idéias ou a subordinação de umas em relação às outras, separadas em perspectiva e tempo, impedem uma interpretação mais ou menos comum de sua obra por parte dos estudiosos. O que é realmente admirável é que Vigotski não