Pietismo
Mário Francisco Tessmann
1. O contexto sócio-histórico do século XVII
Os séculos XVII e XVIII são períodos de transição. Até o advento da reforma, no início do século XVI, a sociedade européia tinha a sua base na unidade cultural proporcionada pela junção entre Igreja e Estado. Este modelo de cristandade – a união entre Igreja e Estado – que foi iniciado no período final da história da Igreja
Antiga, obteve a sua consolidação durante os quase mil anos de existência da Idade
Média.
Esta unidade cultural, que só admitia a existência de uma instituição religiosa – que deveria ser protegida pelas autoridades seculares existentes – foi estremecida com a reforma evangélica, e o surgimento de novas confissões cristãs, no caso aqui a luterana e a calvinista.
Este novo quadro gerou uma situação até então inusitada. O cristianismo, na sua versão medieval, apresentava-se como a religião absoluta, que todos deveriam reconhecer para poderem ser salvos. Entretanto, após a Reforma, católicos, luteranos e calvinistas, sem falar nos grupos menores da reforma, cada um deles reinvidicava a exclusividade da verdade cristã. Quem estava com a razão, perguntava o homem comum?!
Além deste aspecto, os estados seculares que antes protegiam e amparavam legalmente o catolicismo medieval, a partir da Reforma se fragmentam, apoiando os diversos partidos religiosos em lítigio, como eram chamados os católicos, os luteranos e os calvinistas. Sem a tutela da Igreja Medieval, os estados seculares agora emancipados procuram elaborar a sua filosofia política. Esta nova filosofia – o absolutismo - que destronou o poder da Igreja, acaba no entanto criando déspotas absolutistas. O séculos XVII e XVIII convivem agora não mais com o poder absoluto da Igreja, mas sim com o poder absoluto dos senhores territoriais.
Esta situação gerou perguntas inquietantes acerca da restrição do poder dos princípes e imperadores com sua política religiosa. Por isso, no mesmo período