juanita
Talvez essa seja a grande maldição da maternidade. Chorar. Encharcar os panos de prato até formarem uma nuvem cinza sem chance para evaporar. Vão-se algumas semanas embora desde que foi anunciado o regresso de Alonso. Nunca achei que fosse se casar. Nunca achei que fosse amar sua família tanto quanto qualquer covarde amaria. Amar é uma covardia. Talvez essa seja a maldição dos filhos. Não há patologia que explique o sentimento obrigatório de amar seus pais. Amo a minha mãe. Não pelos panos de prato, mas não sei explicar o motivo. Não mamei, mas a amo.
Volto o olho para uma caixa de papelão corroída pela umidade nas laterais. Documentos espalhados. Um desenho; Meu. Meus olhos ardem e sinto como se um bater de asas de meia dúzia de pombos ocupasse o meu estômago. Uma foto de Alonso – “Lembrança de Bogotá. Alonso Filho – Janeiro de 1949”. Por Deus! Que merda que você foi fazer enfiado nas matas? E essa causa que tanto enfia no peito? Qual é nome dessa besteira toda? Os vizinhos já não deixam suas filhas dançar comigo. Seus filhos me assistem ao voltarem da colheita e seus olhos me estupram. Não sirvo mais para casamento. Meu pai não serve mais para levantar muros e minha mãe não faz mais doce. Meu pai, coitado, deu seu nome e acrescentou Junior a Alonso. Uma vez perguntei a professora Perolina “Por que meu irmão tem Filho e eu não? Sou filha igual.” Ela altaneira. Cheia de saber. Olhou por sobre seus seios e respondeu ”Ora, seu irmão tem o mesmo nome que o seu pai. Por isso, Juanita” Talvez essa seja a maldição das professoras; Elas têm de forçar as vistas sobre seus seios e com os anos seus olhos se cansam. Por isso vivem para baixo. Parecer esperta é mais difícil que ser esperta. Acho.
Adormeço.
A madrugada me apresenta, toda vez que desperto do sono, uma quantidade diversa de sons. Passos de inquietude,