pessoa

Aqui sentado

Estou nesta cadeira há tanto tempo que já vi muitas coisas acontecerem, desde tempos conflituosos a reencontros extremamente emocionantes, a simples rotinas e a ritmos acelerados. Ao que isto chegou! As pessoas de hoje em dia já não se preocupam em simplesmente parar de pensar, sentarem-se um pouco e observarem e admirarem toda a paisagem que têm à sua volta. O mundo de hoje, ao qual já não pertenço, limito-me a observar, é o mundo ideal para uma das minhas criações, eis Álvaro de Campos, o real apoiante da evolução, do progresso, do futuro. O quanto Campos iria adorar ver estes veículos, todas estas maquinarias, o vapor a sair das fábricas… Por outro lado, se aqui invocasse “o mestre”, pouco ou nada iria gostar do que via, Caeiro que pouco gostava de movimento, preferia um ambiente calmo, sem pressas constantes, que fosse natural e que lhe trouxesse uma tranquilidade que o deixaria a observar sem pensar, apenas observando. Observo… observo… e o que me parece é que as pessoas ao contrário de mim, Fernando Pessoa, pensam demasiado e necessitam de emoções fortes e constantes, por vezes embora esteja na urbe sinto-me bastante longe, tanto é o que me liga a este povo lusitano como aquilo que me separa. Se este fosse o mundo de outra das minhas mais importantes criações, Ricardo Reis, este seria um pouco controverso, mas nada como ter Lídia ao seu lado para consigo observar o que acontece neste centro de rodopios, pressas e rotinas embora este não fosse o seu ambiente preferido. Ai Ophélia este já não é o mundo nem a cidade onde nos conhecemos, onde valores humanísticos como a cultura, o saber e o lazer são invariavelmente trocados por valores materiais e por sensações demasiado exageradas para pessoas que têm uma vida tão curta, curta demais para todo este tipo de sentimentos e emoções. Só gostava que pudesses estar aqui para comigo observares o mundo em que este se tornou e no quão diferente se tornou em relação ao nosso tempo.