Percursos De Um Porto
Desenhar percursos e praticar o espaço como um ato tático cotidiano desde o abecedário da indicação espacial ("dobre à esquerda", "siga em frente") até o "noticiário" de cada dia ("Encontrei-a hoje no outro lado da rua"), demostram que o caminhar pelo Porto é, certamente, uma experiência diferente e mutável. Pode-se fazer dois ou mais relatos de viagem cuja sequência é escrita pelos passos, mas cuja narrativa nunca será igual, ainda que alguns personagens permaneçam na história.
Considerando a diferença de "lugar"e "espaço", segundo Michel de Certeau (1994), no qual o primeiro "é a ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência, uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade", e o espaço existe "sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade e a variável tempo. [...] efeito produzido pelas operações que o orientam, o circundam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais. [...] um lugar praticado"; é possível pensar no Porto das duas formas.
A cidade como um monumento histórico, rico em cultura, um lugar onde se misturam tradições e elementos diversos para a construção de uma característica só existente aqui. E a cidade como um espaço de transição, de cores e percursos determinados pelos elementos que nela agem condicionando um constante movimento para a produção desse espaço.
Ao se ter em mente esses dois portos, pode-se efetuar navegações que (des)organizem os jogos das relações mutáveis que espaço e lugar mantém um com o outro, transformando lugares em espaços e espaços em lugares. Com isso, quero descrever em relato uma dinâmica observada desde os primeiros dias aqui: o natural perde-se e encontrar-se na cidade, a observação de lugares que, dependendo do ângulo, podem ser identificados como familiares ou totalmente estranhos.
Para mim, o Porto nunca teve uma ordem e, ao mesmo tempo,