Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
Prudência
A polidez é a origem das virtudes; a fidelidade, seu princípio; a prudência, sua condição. A prudência é que nos leva a pensar não somente nos nossos princípios ou inteções mas também nas consequencias dos nossos atos. É a moral aplicada e, sem ela, as outras virtudes não saberiam como serem realizadas e como chegarem no fim que visam. A prudência é o que nos permite distinguir o que é bom ou ruim e agir em consequência disto. É imprudente ouvir apenas a moral, e é imoral ser imprudente.
Coragem
A coragem é a virtude mais universalmente admirável. É que a coragem, como capacidade de superar o medo, vale mais que a covardia ou a poltronice, que ao medo se entregam. Coragem egoísta é egoísmo. Coragem desinteressada é heroísmo; e, se isso nada prova quanto ao valor do ato, indica pelo menos algo quanto ao valor do indivíduo. O que estimamos na coragem seria, pois, em primeiro lugar, o risco aceito ou corrido sem motivação egoísta. Do ponto de vista psicológico ou sociológico, a coragem só é verdadeiramente estimável do ponto de vista moral quando se põe, ao menos em parte, a serviço de outrem, quando escapa, pouco ou muito, do interesse egoísta imediato.
Por exemplo: um assalto a banco não acontece sem perigo nem, portanto, sem coragem, mas nem por isso é moral; em todo caso seriam necessárias circunstâncias bem particulares para que pudesse vir a sê-lo.
Como virtude, a coragem supõe sempre uma forma de desinteresse, de altruísmo ou de generosidade. Ela não exclui, sem dúvida, uma certa insensibilidade ao medo, até mesmo um gosto por ele.
Jankélévitch bem viu: a coragem não é um saber, mas uma decisão, não é uma opinião, mas um ato.
A coragem intelectual é a recusa, no pensamento, de ceder ao medo, a recusa de se submeter a outra coisa que não a verdade, à qual nada assusta e ainda que ela fosse assustadora.
Justiça