Pedofilia
ARTIGO ESPECIAL
0021-7557/94/70-01/56-60
Jornal de Pediatria
Copyright © 1994 by Sociedade Brasileira de Pediatria
* Mestre em Pediatria pelo Depto. de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - SP.
Introdução
Nas últimas décadas, a violência tem atraído para si os olhos da humanidade. Embora não seja privilégio deste século e tampouco seja uma característica inerente de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, a violência tem-se mostrado, em nosso país, com uma cara tão feroz quanto qualquer outro evento dito catastrófico.
A violência dirigida à criança e ao adolescente, colocada às claras nos dias atuais, mobiliza sentimentos com um misto de incredulidade e revolta, cada vez com menor freqüência e intensidade, correndo o risco de ser tratada, num futuro próximo, como uma banalidade do nosso cotidiano. A sociedade desperta frente ao fenômeno, contudo as iniciativas são fragmentadas e desarticuladas e os resultados alcançados, bastante acanhados. Pretende-se, a partir de uma revisão bibliográfica, relevar algumas questões conceituais e metodológicas e propor um modo de abordar esta realidade.
Breve histórico
O maltrato à criança é identificado há muito na história da humanidade e, em contrapartida, no entanto, a compreensão da infância como um período de vida que necessita de proteção e afeto se originou há pouco mais de dois séculos. Tanto em textos bíblicos quanto naqueles que retratam a vida no império greco-romano, existem trechos que descrevem os massacres de populações infantis e discorrem sobre as mortes impostas a crianças nascidas com uma deficiência qualquer.
Entre os helenos, Licurgo determinou que as crianças portadoras de alguma deficiência fossem abandonadas próximo ao precipício do Monte Talgeto7. Em Esparta, as crianças portadoras de deficiência física ou mental eram consideradas subhumanas, o que "legitimava" sua elimi-