Pedagogia da autonomia
Saberes necessários à prática educativa
PAULO FREIRE
CAPÍTULO 2
Ensinar não é transferir conhecimento
Neste capítulo o autor enfatiza que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Este saber necessário ao professor não apenas precisa de ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões de ser, mas também precisa de ser constantemente testemunhado, vivido.
Pensar certo – e saber que ensinar não é transferir conhecimento é fundamentalmente pensar certo – é uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela vigilância constante que temor de exercer sobre nós próprios para evitar os simplismos as facilidades, as incoerências grosseiras.
Para esclarecer essa concepção, Paulo Freire diz que: ensinar exige consciência do inacabamento; exige o reconhecimento de ser condicionado; exige respeito à autonomia do ser do educando; exige bom senso; exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; exige apreensão da realidade; exige alegria e esperança; exige a convicção de que a mudança é possível; e exige curiosidade. Tais itens serão abordados a seguir.
Ensinar exige consciência do inacabamento
Tendo consciência do inacabamento do ser, é possível, estar aberto à mudanças, e entendê-las, como necessárias à transformação de atitudes.
O inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente. A invenção da existência a partir dos materiais que a vida oferecia levou homens e mulheres a promover o suporte em que os outros animais continuam, em mundo. O suporte é o espaço, restrito ou alongado, que o animal se prende “afetivamente” tanto quanto para, resistir; e o espaço necessário a seu