Palavras e silencio

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Palavras e Silêncio...

Quando perdemos um amor, em vez de partir para esquecer, ficamos a ruminar lembranças, pensando em como tudo poderia ter sido diferente. Sequer refletimos sobre a nossa mania de sonhar, a nossa ingenuidade de acreditar no que nos dizem. Nem bem conhecemos as pessoas e já abrimos todas as nossas portas e acreditamos nas palavras bonitas, esquecidos de que podem não ser sinceras. Acreditamos porque não queremos que não seja como idealizamos. Queremos que aquela pessoa se encaixe na nossa fantasia. Aí sofremos porque as nossas projeções e os nossos sonhos naufragaram.

E ficamos no cais, sozinhos, vendo os navios partirem, quando queríamos ir junto. Desejávamos ver o mundo com os mesmos olhos, tomar vinho na mesma taça. Como não sofrer pelos livros que não discutimos, pelos abraços adiados, pelos beijos que deixamos de dar, pela alegria das vitórias que não compartilharemos? Como não sofrer pelo cancelamento dos sonhos, como? O sofrimento não é opcional, como disse o poeta, ele é necessário para que destilemos a nossa taça de fel. Ou até para que paguemos o preço por ter tirado os pés do chão, usufruindo ilicitamente de asas que não eram nossas.

A realidade é implacável e não demora a mandar a promissória. Resta-nos pagar as dívidas feitas pela nossa carência, pela nossa tardia e incurável ingenuidade. E essa dívida não se paga com cheque nem cartão de crédito. Paga-se com o brilho dos olhos, o viço da pele, com o dilaceramento da alma. Ficamos temporariamente deficientes... temos que reaprender a andar, encontrar forças para acordar e enfrentar dias permanentemente nublados... perdemos o sol, o sal das coisas, o doce das frutas... perdemos a visão e o paladar. Temos que reaprender a viver, navegar sem remos, voar sem asas. Temos que continuar vivos, não há escolha!

Enquanto houver mágoa, jogo de culpa, não recuperaremos nossas manhãs ensolaradas. Ficaremos a ruminar feito pagãos, sem rumo, na desordem que é a descrença, a perda da

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