silencio
O SILÊNCIO
Ao contrário do amor ou da beleza, o silêncio é uma noção ambígua. Existem aqueles que o procuram, que o desejam, mas há também aqueles que fogem dele e até sofrem por causa dele. Ora, a fé tem alguma coisa do silêncio. A começar pela própria fonte de toda palavra: a Sagrada Escritura. É, portanto, a partir das Escrituras e bebendo da tradição da Igreja que quero propor uma reflexão sobre o silêncio e conduzir a uma renovada percepção da riqueza do “mistério” do silêncio.
A voz do silêncio
Como disse São João da Cruz: “a linguagem que Deus melhor compreende, é o silêncio do amor”1. Mas ele também acrescenta em suas Máximas, que “o silêncio não é o amor, mas uma precaução para o amor”.
Para amar verdadeiramente, para rezar de maneira digna e para trabalhar frutuosamente, o silêncio é necessário, para não dizer indispensável. “É no recolhimento, na solidão, que a personalidade se forma e adquire um pensamento que se integra com a ascese e a penitência. Todo aquele que ama a Deus ama a solidão junto a
Ele”2.
Mas o que é o silêncio? Onde é a sua fonte, aonde ele nos conduz? Qual é a graça que dele vem?
De um lado, o silêncio se exprime diante da Beleza contemplada. Ele habita o coração no mais profundo amor. Exprime da melhor forma a contrição. Ele abre o caminho para a oração. E nos introduz no mistério de Deus revelando sua presença oculta... Por outro lado, também exprime as maiores dores, marca o sofrimento sentido através da provação da solidão e da ausência, esconde a revolta, o rancor, a inveja, a amargura, exprime a indiferença e oculta a dúvida.
O silêncio pode ser falso quando é birrento, carrancudo, taciturno; ou ainda rígido, meramente disciplinar ou sistemático; ou simplesmente inércia. Só nos resta
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S. JEAN DA LA CROIX, Paroles de lumière 130 ; Oeuvres complètes, Cerf, 1997, p. 284.
CH. DE FOUCALD, Écrits Spirituels, Girord, 1957, p. 114.
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lutar contra isso e tentar “expulsa-lo” como se fosse