Palavras Perdidas

Se algo existe, existe somente aqui.
Mais que escrever palavras vazias é sentir-se vazio em escrever muitas palavras.
01
São 17:30 de uma linda tarde de sol. Apesar do frio la fora, me sinto abraçada pelo tímido raio de sol que insiste em passar pela pequena fresta da janela.
Venta muito lá fora.
Aqui dentro não sinto a pesada mão desta época do ano. Mas aos poucos não consigo mais enxergar o que escrevo. Um desespero toma conta da minha mente. O que será que está acontecendo? Tateio em volta da mesa e não encontro nada que me socorra.
A visão nubla. Tudo fica escuro.
Não sei o que fazer.
Mas a esperança passa pelo lindo céu da cidade. A sua graça encobre o mal que sinto.
Bendita nuvem passageira. Consigo ver onde estão os surrados óculos escuros, aquele companheiro das milhares manhãs ainda embriagada pelo excessos de boêmia. Meu santo remédio.
Tudo fica claro e escuro ao mesmo tempo.
02
As palavras pularam sem dizer mais nada
Era apenas mais um dia que se abria
Não havia códigos a decifrar.
Nada.

Desembrulho as dores escondidas
Um sorriso
Minha mão escorregando e trazendo estrelas – onde antes fazia cócegas
Outros sorrisos sumiram diante do brilho dos olhares de silêncios perturbadores
Sim, sim, sim
Há sinais na vida
No inimaginável das manhãs, das manhas e das coisas de ser...
03
Nos tempos de minha infância alimentava, à noite, uma náusea sem nome. Achava em silêncio – não havia palavras suficientes guardadas em mim para desfraldar esse sentimento – que algo de inevitável estava próximo de se consolidar.
Algo ruim.
Não sabia dizer se achava que o escuro do quarto iria espalhar-se sobre o mundo e derramar seu pavor rastejante sobre as coisas coloridas da vida.
Nem se seria escuro esse caos.
Não sabia dizer se esse fim estava sendo urgido numa sala celeste, onde os deuses discutiam com seus investidores um modo viável de esvaziar o conteúdo do cálice e por fim à criação.
Tampouco sabia se os deuses teriam algo a ver com isso.
Não