Carência e plenitude
Editora Vozes, 2001
3. O sentido ou a fala perdida
(dirigido aos terapeutas)
“À pergunta: “o que é que não vai bem?”, nem sempre a resposta é dada por um sofrimento vago ou bem localizado no corpo, mas, às vezes, por um suspiro ou por algumas palavras misturada às lágrimas:“ Isso não tem sentido!”
Então compreende-se que a neurose possa revelar um ser frustrado de sentido, o que leva aguns a pensar que a exigência fundamental do homem não é o desabrochamento sexual (Freud) , nem a valorização de si (Adler), mas a plenitude de sentido (Frankl).
Como se sabe, um sofrimento é insuportável na medida em que não se pode conferir-lhe sentido. Tudo parece possível para quem é capaz de conferir sentido, até mesmo ao insustentável, ao impossível.
Àqueles que exigem sentido, responde-se frequentemente pela explicação; ora, esta não cumpre sua promessa, ela não é a resposta à pergunta.
Certos terapeutas limitam-se a oferecer um amontoado de explicações: tal causa, tal efeito – tal pai, tal filho; o mito está aí m justamente para oferecer respaldo à explicação: tal filho, tal assassino do pai, etc. O terapeuta já não leva a sonhar, já não estimula a interpretação livre dos sintomas que nos esmagam: uma interpretação particular acaba sendo uma explicação universal para o funcionamento da libido. A própria Bíblia e os textos sagrados, “estes grandes reservatórios de sentido” , são utilizados como catálogos de explicações, ou ainda pior, de justificativas e, portanto, de infecção culpabilizadora: o que tinha sido inspirado com o objetivo de curar é utilizado para destruir, colocar de sobreaviso em relação ao pensamento e à interpretação, aqueles que tinham necessidade de palavras, imagens e grandes figuras a fim de se abrirem para um sentido que tornasse suportável sua vida feita de dores. A palavra viva virou letra morta, letras que matam, catecismo.
A verdade nunca é dada de uma vez por todas, nem está arrumada nas estreitas colunas