OS PARTIDOS NO SOCIALISMO E A CONTRADIÇÃO INTERNA NA PERSISTÊNCIA DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
Fabio Nascimento Marafon - FFLCH USP
Nós somos ele.
Você, eu, vocês – nós todos.
Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça.
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.
Bertolt Brecht, Mas Quem é o Partido?
1. Introdução
A inspiração de investigação do presente artigo nasceu com um pequeno período do livro Da Contradição, de Mao Tse-Tung:
“Enquanto existirem as classes, as contradições entre as ideias corretas e as ideias erradas dentro do Partido Comunista são o reflexo, no seio do partido, das contradições de classe” (TSE-TUNG, 2009, p. 75).
Se há reflexos de contradições de classe no interior do Partido, será possível que a relação entre a direção e a base seja o reflexo da divisão social do trabalho?
Tomaremos como divisão social do trabalho a concepção de Marx em A Ideologia Alemã: “A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão entre trabalho material e [trabalho] espiritual” (ENGELS; MARX, 2012, p. 35).
A partir desse conceito, prosseguiremos adotando o seguinte método: em primeiro lugar, trataremos da concepção de partido; em segundo lugar, tentaremos depreender dessa concepção a relação entre a direção e base que está implícita; e, por fim, compararemos essa relação com a divisão social do trabalho.
Nossos objetos de análise serão obras de importantes autores e autora do marxismo. Abordaremos em primeiro lugar os escritos de Rosa Luxemburgo e Karl Kautsky, ambos dirigentes do Partido Social Democrata Alemão no final do século XIX, início do XX. Para a primeira, estudaremos tanto seu livro Reforma ou Revolução?, quanto seus artigos na polêmica com Kautsky, Y después qué?, Desgaste o lucha?, e La Teoría y La Práxis. Para o segundo, utilizaremos os escritos em resposta a Rosa Luxemburgo, Y ahora qué? e Una nueva estratégia.
Em segundo lugar, abordaremos as