A crise do movimento operário
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A questão da crise do movimento operário e do ideário socialista vem sendo associada desde os anos 80, tendo ainda recebido forte impulso com o colapso do socialismo de Estado, com temas e análises de profundo cunho ideológico que não podem ser entendidas relevando-se a atual ofensiva do capital em escala planetária. Muitas formulações vigentes tentam demonstrar que após a queda do muro de Berlim assistimos ao "fim da história", com a vitória da liberal-democracia e a dissolução, num mundo pós-moderno, da clássica contradição da modernidade capitalista, expressa no processo de valorização do capital, cuja implicação seria o esgotamento do movimento operário e do projeto socialista centrado no mundo do trabalho, assim como de qualquer antagonismo social. Numa interlocução apenas indireta com tais formulações, tentaremos compreender a crise atual do movimento operário numa perspectiva histórica oposta a essa. Nem é preciso dizer que a crise do movimento operário e da ação socialista no Brasil, ainda que com particularidades a serem consideradas e desvendadas, é parte desse quadro extremamente geral que se segue.
I
Como apontou Marx, o capital, no seu processo de reprodução ampliada (valorização), constitui-se no sujeito histórico fundante da modernidade. O processo de acumulação do capital depende da existência de determinadas relações sociais de produção da vida material que permitam a extração do valor excedente do trabalho, que é exatamente o que constitui a capital. Este, reportando-se ao liberalismo, através da aceitação da igualdade formal de indivíduos livres no mercado, organiza, segundo seus desígnios, o mundo do trabalho, do qual depende para sua reprodução ampliada.
Do conflito inter-capitais, pela apropriação de parcelas maiores do excedente, e da resistência operária à extensão indefinida da exploração do trabalho na forma de mais-valia absoluta (a escravidão tendencial), decorre o progresso técnico e a prevalência da mais-valia relativa (que